quinta-feira, maio 27, 2004

Para quebrar o meu silencio...

... que tal um comprimidozito?

(via drew's blog-o-rama)

segunda-feira, maio 17, 2004

Realismo

Depois de Troy ter feito desaparecer ou ter alterado uma série de situações da Ilíada, fica-se à espera do tratamento que Alexandre o Grande levará de Oliver Stone e de Bazz Luhrman nos seus projectos sobre esta personagem histórica. Ultimamente Hollywood tem decidido mandar às urtigas a verdade histórica ou as linhas originais das obras que filma. A ver vamos se isso não vai dar maus resultados nos próximos tempos.

Pretensiosismo

Depois de bastante tempo sem aqui escrever nada (o texto sobre o Kill Bill deve ter demorado o seu tempo a digerir) cá fica uma nova crónica. Desta vez o tema é Troy, o novo grande épico de Hollywood.

O filme tem como base uma leitura muito livre e pouco rigorosa da Ilíada. Os deuses são basicamente descartados, excepção feita a Tétis, mãe de Aquiles (desempenhada por uma envelhecida Julie Christie). A invulnerabilidade de Aquiles é desfeita logo no início do filme quando, na resposta à pergunta de um rapaz sobre se ele seria invulnerável, Aquiles responde que, se assim fosse, não precisaria de escudo. O motivo do ataque a Tróia é despojado da maior parte da sua carga romântica (recuperar Helena) para se transformar num jogo de poder por parte de Agamémnon. Diversos personagens morrem sem que isso realmente acontecesse no épico original (Melenau) e outros morrem em circuntâncias diferentes das originais (Ajax é morto por Heitor, não se suicida). Os doze anos (aproximadamente) que dura a história são reduzidos a umas quantas semanas (pelo menos aparentemente).

É verdade que o filme não é obrigado a seguir a história original - afinal de contas o seu título é Tróia, não A Ilíada - mas também não é menos verdade que pretende insuflar a sua acção e as suas personagens (especialmente estas) de uma imagem "bigger than life". Aquiles aparece como um homem obcecado em conquistar o seu lugar na história. As restantes personagens estão sempre a tentar roubar o filme em todos os seus planos, especialmente à custa de diálogos pseudo-épico-literários.

Este é o lado pior de Troy, quando se tenta fazer das personagens aquilo que elas não são. Quando se tenta pedir aos actores mais que aquilo que são capazes de dar, especialmente com o que lhes é fornecido para trabalhar. O caso mais óbvio é Brad Pitt, na personagem de Aquiles. Claramente fora do seu ambiente natural, Pitt balança entre o overacting que lhe era característico numa fase inicial da carreira e um underacting (à la Keanu Reeves em Matrix Reloaded e Matrix Revolutions, ou seja, vazio de substência) mais trabalhado nos últimos anos. Aquiles é uma personagem que balança entre a obsessão por inscrever o nome na história, consubstanciar o seu ódio por Agamémnon e procurar uma vida longa e sossegada na companhia de uma família. No meio de tudo isto, o único ponto em que marca pontos é nos conflitos com Agamémnon, muito por conta do magnífico desempenho de Brian Cox. Nos restantes pontos, a personagem não chega a ter consistência suficiente. Neste tipo de filme o ideal seria que se limitasse ao heroísmo e à bravura em combate.

O lado melhor do filme vem nas sequências de combate. Bem trabalhadas, embora com alguns exageros aqui e ali (há momentos em que se vêm alguns pixels no ecrã e que a imagem como que pára) estas conseguem ser activas e bem trabalhadas, mostrando o essencial e demonstrando um excelente trabalho ao nível de coreografia e de direcção artistíca. O momento mais alto do filme a este nível vem durante o combate de Aquiles e Heitor, de uma grande intensidade e com os actores a desempenharem os respectivos papéis de melhores guerreiros da época com grande brilho.

A nível de actores reside outro dos pontos fortes do filme. Com um elenco de luxo, o filme consegue ter cenas roubadas por Eric Bana, no papel de Heitor, um dos poucos actores em Hollywood (mas não americano) que consegue fazer muito com pouco. Outro actor em destaque é Peter O'Toole, que demonstra a sua impressionante capacidade para representar em cada cena em que surge, sendo o seu ponto alto a conversa entre Príamo e Aquiles na tenda deste. Brendan Gleeson, Brian Cox, Sean Bean, Orlando Bloom (este menos) e outros estão a bom nível. Pena é que não tenham muito com que trabalhar, embora isto surja por deficiência do argumento e da realização.

E Helena de Tróia? Vale a pena que se lute uma guerra por ela? A alemã Diane Kruger, que foi escolhida entre milhares de mulheres para o papel consegue fazer jus ao epíteto de "mulher mais bela do mundo". É realmente lindíssima, deslumbrante. Provavelmente atiraria ao mar muitos navios. Mas a incapacidade da alemã para representar (além de chorar constantemente) estraga a imagem. Falta a imagem de mulher única, de beleza inacessível. A fragilidade é excessiva para que se lute uma guerra por ela. Mais uma vez poderá ser falha do realizador.

Posto tudo isto, que dizer de Troy? Que é pretensioso? Isso já o disse no título. Que é excessivamente longo? Isso é um facto. Que é agradável para se passar três horas no fresco do cinema numa tarde quente? Na minha opinião sim. Mas desengane-se quem vê nestes filmes o renascimento do peplum. Este filme não passa de um enorme balão sem muito para ver. Esperemos pela próxima oportunidade.

quarta-feira, maio 12, 2004

Uma pequena pérola

Tarantino, falando de uma sequela do Matrix:

"If I wanted computer graphics, I'd go home and stick my dick in a Nintendo."


(via drew's blog-o-rama)

sexta-feira, maio 07, 2004

Kill Bill Vol. 2

(continuando)

Só dois pensamentos muito breves: é espantoso como Tarantino catalisa as influências e as torna suas (por isso é que ele só podia ser um autor dos anos 90 em que a ética dj ganhou domínio); enquanto via, pensava no bem que o título "Era Uma Vez no México" ficaria àquilo e, consequentemente, tentava imaginar quanto o ali músico Robert Rodriguez invejará o mil vezes mais talentoso colega.