quinta-feira, julho 08, 2004

Brando

Marlon Brando morreu na semana passada. Foi um actor que marcou uma geração e foi a face maior do Actor's Studio.

Havia algo em Brando que atraía. Não seria apenas a sua face, indubitavelmente bela. Não seria apenas o seu corpo, depósito de masculinidade. Não seria a sua voz ou o seu sotaque, carregados e comuns pelos EUA. Seria então, talvez, a mistura de tudo isto associado a um magnetismo e a umas trevas que ele trazia consigo e que transmitia através do olhar, o que nos seduzia.

Brando fez filmes bons e maus. Teve papéis bons em filmes maus e papéis maus em filmes bons. Brando fez quase tudo. Foi um homem brutal e abusador com o Stanley Kowalski de Um Eléctrico Chamado Desejo. Foi um homem de sonhos destruídos que tenta corrigir um mal em Há Lodo no Cais. Foi o Kurtz soldado e filósofo de Apocalypse Now. Foi o hedonista niilista d'O Último Tango em Paris. Foi um Júlio César marcante e mais humano que o normal. Foi um símbolo do Mal com face e sentimentos humanos n'O Padrinho.

Terminou a carreira em filmes nada memoráveis, muito devido a uma presença já não tão imponente, excepção feita à gordura, mas a sua lenda foi criada nestes filmes que enunciei. Muito mais de relevante ele transmitiu além das suas actuações. Foi um advogado dos direitos dos índios americanos. Foi um opositor de Kazan, especialmente enquanto este o filmava em Há Lodo no Cais. Foi um símbolo sexual, símbolo ainda óbvio mesmo nos nossos tempos.

Mas mais que tudo foi, segundo muitos, "O Maior Actor de Todos os Tempos". Sabendo que ainda mantém esse título mesmo caído em desgraça, mesmo tendo a sua última interpretação memorável 25 anos, podemos ver a força daquilo que nos deixou. Já nada contribuía para o cinema actual, mas era o depositário de uma geração de actores e de um sibolismo que não mais voltámos a ver.