Desiludido
Vi, finalmente, The Terminal. Não fiquei impressionado, para dizer a verdade. Sem dúvida que é um bom filme, tudo no lugar certo e a acontecer no momento exacto. Indo mais longe direi que é um filme perfeito. O problema é que é precisamente isso: perfeito. Sem mais. Sem o golpe de asa que o faria ascender ao universo dos filmes de eleição. Sim, eu sei que muitos há - essencialmente autores de blogues - que discordarão de mim. Que este é possivelmente o melhor Spielberg. Que Tom Hanks está sublime, que, que, que...
Como o Miguel Galrinho disse, num comentário abaixo, e muito bem, a desilusão é tanto maior quanto maiores forem as expectativas. As minhas expectativas, pelo que vinha sendo dito, eram muito altas. O que vi foi, contudo, um filme sem a chama que transformou, por exemplo, Jaws numa referência do terror e suspense ou a sequência inicial de Saving Private Ryan como a, talvez, melhor sequência de guerra da história do cinema.
Primeiro ponto: falta de surpresa. O filme é previsível, desde o óbvio momento em que se sabe que Viktor não sairá pelas portas quando lhe dão a oportunidade (o que é natural, afinal de contas o filme acabaria aí), passando pela sua requisição como tradutor num momento difícil até terminar no "Vou para casa" já no táxi. O filme é previsível em todos os pontos. Tucci tem que ser obviamente um mau muito mau e asqueroso, que liga mais às regras e à sua ambição que ao resto. Zeta-Jones tem que ser uma assistente de bordo obviamente disfuncional, apesar de imensamente gira, que acaba por se interessar por um homem que nada tem que o distinga (o grande trunfo de Tom Hanks para o seu estrelato). Viktor tem que ser um homem altamente íntegro e fiel aos seus princípios e amigos desde o início ao fim do filme. As personagens são estereótipos e ficam fiéis a isso mesmo desde o início ao fim do filme.
Segundo ponto: credibilidade. É ridículo que coloquem Viktor numa situação de não perceber quando lhe pedem o passaporte. Aparentemente nem a palavra "Passaporte" entenderá. Isto tanto mais é estranho quanto a palavra é aproximadamente igual em todas as línguas, incluíndo - salvo erro - o russo (ou derivada, como é suposto ser a língua do país inventado para o filme). Em todo o caso, um absoluto desconhecimento da língua não o impede de aprender o inglês em apenas algumas semanas através de guias turísticos de Nova Iorque. O desconhecimento da língua também não parece ser obstáculo a que o outro russo, que surge mais tarde na história, aprenda a dizer "cabra - goat" mesmo sem ser ensinado. Curioso também que num aeroporto tão importante não exista nenhum tradutor de russo a menos de 1 hora de distância. Outra coisa curiosa, apesar de provável, uma vez que não conhecemos o métier de Viktor, é que ele aparente ser um especialista em construção civil, incluindo alvenaria, carpintaria, canalização e instalações eléctricas.
Terceiro ponto: relações inter-personagens. Não há, para dizer a verdade, verdadeira química entre Hanks e Zeta-Jones. Hanks ainda a disfarça, mas Zeta-Jones não é actriz para tanto. Fora da pose de femme fatale parece perder o pé e não consegue ser credível naquelas suas mudanças de humor permanentes. Não conseguimos ver muito de uma possível ligação entre Cruz e Torres mas, pelo menos, Diego Luna (sublime o que faz com o que tem) consegue ser altamente convincente na sua demonstração de amor.
Outras pequenas coisas poderiam ser sugeridas, mas a verdade é que se trata apenas disso, de pequenas coisas. O problema está no facto de serem estas pequenas coisas que trazem a beleza e o sublime a um filme. É nos pequenos pormenores que nos dá a ver ou que nos esconde que um realizador nos encanta verdadeiramente. Spielberg sabe fazê-lo, mas tem momentos em que não parece estar para se dar ao trabalho.
The Terminal: um mau filme? Antes pelo contrário. É bastante bom. Colocado na carreira de Spielberg há 10 ou 15 anos atrás poderia passar pela sua obra maior. Neste contexto, porém, não passará de um filme que a maioria dos realizadores nunca conseguirá sequer aspirar, mas que não passará do meio da tabela na lista do realizador.
por uma vez, e só por esta vez, deixo a minha classificação ao filme: 15/20. E fico à espera da indignação...
Como o Miguel Galrinho disse, num comentário abaixo, e muito bem, a desilusão é tanto maior quanto maiores forem as expectativas. As minhas expectativas, pelo que vinha sendo dito, eram muito altas. O que vi foi, contudo, um filme sem a chama que transformou, por exemplo, Jaws numa referência do terror e suspense ou a sequência inicial de Saving Private Ryan como a, talvez, melhor sequência de guerra da história do cinema.
Primeiro ponto: falta de surpresa. O filme é previsível, desde o óbvio momento em que se sabe que Viktor não sairá pelas portas quando lhe dão a oportunidade (o que é natural, afinal de contas o filme acabaria aí), passando pela sua requisição como tradutor num momento difícil até terminar no "Vou para casa" já no táxi. O filme é previsível em todos os pontos. Tucci tem que ser obviamente um mau muito mau e asqueroso, que liga mais às regras e à sua ambição que ao resto. Zeta-Jones tem que ser uma assistente de bordo obviamente disfuncional, apesar de imensamente gira, que acaba por se interessar por um homem que nada tem que o distinga (o grande trunfo de Tom Hanks para o seu estrelato). Viktor tem que ser um homem altamente íntegro e fiel aos seus princípios e amigos desde o início ao fim do filme. As personagens são estereótipos e ficam fiéis a isso mesmo desde o início ao fim do filme.
Segundo ponto: credibilidade. É ridículo que coloquem Viktor numa situação de não perceber quando lhe pedem o passaporte. Aparentemente nem a palavra "Passaporte" entenderá. Isto tanto mais é estranho quanto a palavra é aproximadamente igual em todas as línguas, incluíndo - salvo erro - o russo (ou derivada, como é suposto ser a língua do país inventado para o filme). Em todo o caso, um absoluto desconhecimento da língua não o impede de aprender o inglês em apenas algumas semanas através de guias turísticos de Nova Iorque. O desconhecimento da língua também não parece ser obstáculo a que o outro russo, que surge mais tarde na história, aprenda a dizer "cabra - goat" mesmo sem ser ensinado. Curioso também que num aeroporto tão importante não exista nenhum tradutor de russo a menos de 1 hora de distância. Outra coisa curiosa, apesar de provável, uma vez que não conhecemos o métier de Viktor, é que ele aparente ser um especialista em construção civil, incluindo alvenaria, carpintaria, canalização e instalações eléctricas.
Terceiro ponto: relações inter-personagens. Não há, para dizer a verdade, verdadeira química entre Hanks e Zeta-Jones. Hanks ainda a disfarça, mas Zeta-Jones não é actriz para tanto. Fora da pose de femme fatale parece perder o pé e não consegue ser credível naquelas suas mudanças de humor permanentes. Não conseguimos ver muito de uma possível ligação entre Cruz e Torres mas, pelo menos, Diego Luna (sublime o que faz com o que tem) consegue ser altamente convincente na sua demonstração de amor.
Outras pequenas coisas poderiam ser sugeridas, mas a verdade é que se trata apenas disso, de pequenas coisas. O problema está no facto de serem estas pequenas coisas que trazem a beleza e o sublime a um filme. É nos pequenos pormenores que nos dá a ver ou que nos esconde que um realizador nos encanta verdadeiramente. Spielberg sabe fazê-lo, mas tem momentos em que não parece estar para se dar ao trabalho.
The Terminal: um mau filme? Antes pelo contrário. É bastante bom. Colocado na carreira de Spielberg há 10 ou 15 anos atrás poderia passar pela sua obra maior. Neste contexto, porém, não passará de um filme que a maioria dos realizadores nunca conseguirá sequer aspirar, mas que não passará do meio da tabela na lista do realizador.
por uma vez, e só por esta vez, deixo a minha classificação ao filme: 15/20. E fico à espera da indignação...