quinta-feira, agosto 25, 2005

Porque razão o Charlie and the Chocolate Factory me irritou mesmo

Já apontei a cópia (pilhagem, mesmo) feita ao Wlly Wonka & the Chocolate Factory. Ficam antes outras razões.

Infância de Wonka: não é para aqui chamada a razão de Wonka ser um chocolateiro (que raio de palavra!). A sua personalidade de adulto nada tem a ver com a de criança e também não é importante. Este acrescento, absolutamente ausente da obra de Dahl, apenas vem demonstrar a mania que grassa no cinema de explicar tudo. Será que ainda não perceberam que nem tudo tem de ser explicado? Talvez Tim Burton o tenha esquecido.

Oompa-Loompas: Deep Roy tem um ar realmente divertido, mas isso não faz uma personagem, apenas adicionará algo. A razão para a existência dos Oompa-Loompas na fábrica deve-se ao facto de estes não serem humanos e de o chocolate não poder ser tocado por mãos humanas. A presença de alguém que, independentemente das expressões faciais que possa ter ou fazer, é manifestamente humano apenas estraga a história.

Fábrica: copia as boas ideias do filme de 71 e inventa outras que não se percebem. A parte em que passam por um cenário qualquer futurista em que os Oompa-Loompas estão a disparar não se sabe o quê contra não se sabe bem onde, é absolutamente ridícula. Serve para quê? Dar trabalho aos artistas do digital? Se sim, não tiveram muito, aquilo não tem nada para se ver.

Pilhagem: neste filme, Burton vai buscar descaradamente coisas à história do cinema. Uma ou outra podem ser chamadas de homenagens, paródias ou inspirações, mas são em número demasiado elevado. A mim parece-me antes que Burton tenta tapar a falta de inspiração pessoal copiando coisas com sucesso no passado. Temos Berkeley nas cenas de dança, temos Kubrick no obelisco, temos cópia de si mesmo com a personagem do pai e ainda temos toda a cópia ao filme original.

Caricaturas: que são as crianças e respectivas famílias. Em todos os casos. Nenhuma apresenta um mínimo de verosimilhança. Num filme destes deve haver sempre uma ligação á realidade, aos sentimentos humanos mais comuns, de forma a ancorar o filme. Neste filme isso não existe.

Pronto, se calhar foi tudo embirrância minha porque já tinha visto o outro filme e o achei melhor, a léguas deste. Manias minhas, que querem. Agora venham lá com as conversas que quiserem, Burton está a perder qualidades. Quando para se recuperar de dois filmes fraquinhos (mais o Planeta dos Macacos que o Big Fish) decide recuperar um livro e copiar o primeiro filme dando isso origem a críticas deste tipo, bom... isso diz muito pouco de bom dos seus admiradores.

segunda-feira, agosto 22, 2005

Os custos da acção

Na passada sexta feira, o suplemento Y do Público trazia um interessante artigo sobre o cada vez menor sucesso dos filmes de acção. Numa reflexão elucidativa - sobre o fenómeno e sobre aquilo que dele pensam os seus autores - chegava-se à conclusão que eram os espectadores que estariam a mudar, ao preferirem heróis mais humanos e mais identificáveis.

Ora, sendo esta uma análise correcta, creio que esconde o verdadeiro alcance do fenómeno. O desejo de ver heróis mais humanos preder-se-à, a meu ver, com três razões distintas, umas mais óbvias que outras.

A primeira e mais óbvia é o aumento de público feminino. O cinema de acção foi, em tempos, um género de homens, por homens e para homens. Só assim se justificaria que actores como Schwarzenegger e Stallone, homens que apenas tinham músculos e nenhum charme, poderiam ser enormes estrelas de cinema. Os seus espectadores não tinham problemas com a sua aparência, o que interessava era mesmo a sua capacidade de matar um regimento co uma rajada de metralhadora. O aumento de espectadores do sexo feminino veio aumentar também o seu número - e mais importante ainda, a sua proporção - no género de acção. As mulheres, "vindas" de um género mais sentimental como o drama, exigiram uma acção mais integrada com o sentimental e com a realidade. Os heróis -e por extensão, as heroínas - teriam de ser mais convincentes, capazes de sofrer física e psicologicamente, teriam de ser influenciados também a nível emocional pelas situações que viviam. Alguns autores perceberam isso e assim surgiram novos heróis: Bruce Willis - figura exposta ao sadismo de McTiernan em Die Hard; Sigourney Weaver - contra-corrente na altura, mas heroína solitária e por necessidade em Alien de Riddley Scott; ou mesmo Arnold Schwarzenegger - primeiro no Terminator 2, dando um apoio emocional à criança John Connor e à mulher Sarah Connor, e depois numa reinvenção fantástica com dois filmes, True Lies, incorporando a mulher na sua vida de espião infalível, e em Last Action Hero, em que satirizava a sua própria imagem, tornando-se, por via da magia, em ser real e mortal.

A segunda razão, menos óbvia mas mais imediata, está ligada ao 11 de Setembro. Sendo o género de acção hollywoodesco, é óbvio que a sua construção estará dependente do imaginário americano. Com o 11 de Setembro, a fragilidade americana ficou exposta, uma fragilidade que não se compadece com heróis invencíveis e imortais. Os novos heróis foram bombeiros e polícias - não necessariamente the best around, frase recorrente no cinema de acção - que morriam no desempenho das suas funções, entre medos e ferimentos, mas com a consciência que o dever tinha que ser cumprido. Realizadores mais perspicazes notaram isso e incorporaram-no nas suas histórias - tal como Spielberg com o seu recente War of the Worlds, onde o seu herói era uma pessoa normal que apenas tinha o defeito de ver toda a gente que lhe importava sobreviver numa situação em que mais ninguém o conseguia. Mesmo uma produção muito agarrada ainda ao passado, como Mr.&Mrs. Smith mantém essa imagem de fragilidade na sequência final que, ainda que irreal, acrescenta uns óbvios coletes à prova de bala aos heróis, coletes esses que acabam crivados de tiros.

A terceira razão, e menos óbvia ou imediata, é a internet. Quem apontar a internet como factor de interesse que compete com o cinema estará certo, mas não é só por isso. Nem sequer devido aos downloads ilegais de filmes. O problema está no acesso à informação que disponibiliza, especialmente de teor cinetífico. Qualquer criança começa a conseguir saber os limites de um corpo humano, consegue saber que uma bala não mata ninguém imediatamente se atingir o estômago, independentemente de quem a dispara; um tiro não explode um carro e, acima de tudo, não existem super-heróis e qualquer das façanhas que tentam mataria facilmente qualquer humano normal. Há um choque da ficção com a realidade que as crianças rejeitam e as faz preferir um videojogo que, pelo menos, tem o desafio de não saberem se serão mortas ou não pelo inimigo ao virar de qualquer esquina.

Qual o caminho então a partir daqui? Parece-me óbvio: a realidade. Mas uma realidade, digamos... "irreal". Uma realidade de pessoas normais em situações anormais. O relativo insucesso de um filme como Ladder 49 prende-se com a sua realidade real: o dia a dia de um agrupamento de bombeiros. Nada de anormal se passava, as situações com que se deparavam eram as mesmas que um grupo de bombeiros terá pela frente na vida real. Os espectadores não querem isso, querem antes situações extremas em que o herói - ou heroína, cada vez mais desejável - sejam submetido a um acontecimento que o faz socorrer-se das suas manhas mais escondidas a fim de sobreviver. O desafio passará a estar não nos efeitos especiais - já de si quase ilimitados graças ao digital - mas antes nas hitórias. Os argumentos terão de ser verosímeis e coerentes. O tempo para os espectadores vazios de cérebro passou - esses vão ver as escatologias ditas de comédia que por aí andam aos montes - agora os espectadores querem pebsar um pouco. Não muito, mas precisam de ser desafiados. Tal como os produtores.

sábado, agosto 13, 2005

Caril à Portuguesa?

sábado, agosto 06, 2005

Sem sabor

Este post ia sair mais longo, mas por problemas com a $%&#?(&%%/ do Blogger, fica curtinho e directo ao assunto.

Charlie and the Chocolate Factory é um desperdício. Burton mostra sinais preocupantes de esgotamento. Não consegue recriar a magia do primeiro filme e tenta compensar isso com as coordenadas habituais dos filmes de Burton: a escuridão, a neve e um filho perdido do pai. O resultado é um filme sem chama, que foge aos aspectos mais bonitos do filme de Mel Stuart e que me fez arrepender de não ter esperado pela edição em DVD.

Quatro pontos apenas:

1. Não é imitando Michael Jackson, mesmo que este fosse a primeira escolha para o papel, que se constrói uma personagem, para mais a de Willy Wonka, depois de Gene Wilder a ter transformado em louco, infantil - não acriançado - e sonhador.

2. As outras personagens podem ser estereótipos, mas Charlie é suposto ser apenas uma representação de qualquer criança. Burton tem de perceber a diferença entre uma caricatura e um exemplo.

3. A fábrica era mágica e bela porque era apresentada em contraste significativo com a parte anterior do filme. Neste filme a neve constrói a magia desde o início e esta torna-se banal. Por outro lado não é com uma cabana aos pedaços que se faz uma família pobre. Burton não tem nada que seguir pelo caminho mais fácil.

4. Os Oompa Loompas até nem são mauzinhos, mas o digital para multiplicar o único actor e ao mesmo tempo o tornar ainda mais minúsculo não substitui o artifício teatral de um guarda roupa divertido e de uma maquilhagem simples mas to the point. Por outro lado há mais numa música que simplesmente a fazer. Convém que se perceba o que está a ser cantado.

Balança final? Mais um prego no caixão de Burton que desde Sleepy Hollow não vejo fazer nada que se aproveite. Eu diria para não o verem, mas como deve ser tarde, aconselho apenas o Willy Wonka and the Chocolate Factory de 1971 para um filme agradável, simples, despretensioso e verdadeiramente mágico.