quinta-feira, dezembro 16, 2004

Para ser advogado do diabo

João,
quanto a “Alexandre”, pode ser que o filme (principalmente a sua montagem irritante, rápida, estúpida, sem sentido) tenha saído prejudicado por Oliver Stone se ter visto obrigado a reduzi-lo a três horas quando era filme para cinco, como o realizador diz no “making of” realizado pelo próprio filho e que passou na rtp2 aqui há dias.

Quanto às listas de Melhores do Ano, só um breve apontamento: “As Invasões Bárbaras” estreou em Portugal em 2003, não podendo por isso integrar as listas de 2004.

Parece-me que “A Paixão de Cristo” volta à discussão. Espero essa lista de Piores de 2004.

quarta-feira, dezembro 15, 2004

E começaram também as nomeações

Com os Golden Globes, começa a corrida aos prémios de Hollywood e arredores. Para já, temos Alexander Payne, depois dos interessantíssimos Election e About Schmidt, à frente das previsões com o seu Sideways. Perto temos Martin Scorsese com o seu biopic(?) The Aviator.

Tenho que confessar, nunca fui um grande apreciador dos filmes que ganham Oscars ou outros prémios do género. Divirto-me a ver a gala dos Oscars e a tentar adivinhar quem vai ganhar. Indigno-me todos os anos por causa da entrega de determinados prémios a determinados filmes. O que nunca me aconteceu foi dar real importância aos Oscars.

Primeiro que nada, o sistema é do mais ridículo que pode haver. Cada votante dá o seu voto, individualmente, a um filme em cada categoria. Isto faz com que sucedam ridículos como no ano passado (filmes de 2002), em que, mesmo tendo ganho o prémio para Melhor Argumento, Melhor Actor (em torno de quem o filme gravitava) e Melhor Realizador, The Pianist viu o prémio de Melhor Filme ir para Chicago, que apenas conseguiu umas técnicas e o de Actriz Secundária.

Já antes tínhamos visto um filme feito em volta de um actor que, depois deste não ter conseguido o prémio, arrebatou o de melhor filme e de melhor realizador (que é absolutamente medíocre). Falo de A Beautiful Mind. O actor era Russel Crowe, o qual merecia completamente o Oscar, ao contrário do que se passou no ano de Gladiator, em que, com uma personagem sem espessura e à qual não poderia fazer muito, levou a estatueta dourada.

Outros exemplos das asneiras da indústria estão na não atribuição do prémio a Martin Scorsese, no tempo que demoraram a dá-lo a Henry Fonda e Paul Newman e, no maior crime de sempre da "Academia" (desta vez não é a ABCine, estejam lá quietas, suas malucas), dando o prémio de melhor filme ao Shakespeare in Love, o maior vómito que já ostentou a estatueta. Aliás, de 1990 para cá, apenas em três anos os filmes que ganharam mereceram realmente essa entrada na história do cinema. Foi em 91, 92 e 93, com, respectivamente, The Silence of the Lambs, Unforgiven e Schindler's List. O resto foram prémios a quem deu mais presentes aos votantes.

Para temrinar, falta falar do prémio mais asqueroso dos Oscars: o de Melhor Filme em Língua Estrangeira. E é-o porquê? Primeiro porque faz imediatamente a descriminação entre filmes em língua inglesa e outros. Segundo porque o seu título é estúpido: os filmes em língua inglesa são em língua inglesa, não americana, como tal são desde logo em língua estrangeira (Inglaterra não é na América, pois não?). Por fim, porque, tirando os casos em que algum filme ou realizador conseguiu, por qualquer motivo, um hype em solo americano, nenhum filme estrangeiro consegue concorrer com os outros. E não me venham dizer que, por exemplo no ano passado, o Les Invasions Barbares não enterrava metade da lista de nomeados a melhor filme.

Quanto aos Globos de Ouro, esqueçam-nos. Se servem para estabelecer diferenças com Hollywood, tudo muito bem, afinal de contas trata-se da imprensa estrangeira. Se não, se é para serem apenas um barómetro e darem a oportunidade de fazer mais uma gala, bem podem ignorá-los, que se o original é mau, as cópias são sempre ainda piores. E mexer na porcaria só a faz cheirar ainda pior.

And the race is about to begin...

...and they're off. Sideways takes on with a slight margin, followed by The Aviator only by a nose. Sideways has won some nice derbies this year but we can never tell with the jockey Martin "The eternal looser" Scorsese riding The Aviator, the most expensive horse this season. Close by and waiting for a slip are some experienced jockeys, like Clint "Old timer" Eastwood and Mike "The Graduate" Nichols. Don't forget Finding Neverland, it has all the good qualities of a fast finisher...

(ler em ritmo acelerado e com voz de bagaço, ao estilo de corridas de cavalos).

Alguns dos melhores do ano

Bom, atendendo ao que vi este ano, o que elimina imediatamente alguns filmes de língua não-inglesa, dado ainda não perceber holandês suficiente para me fiar apenas em legendas, aqui fica uma pequena lista, sem ordem de preferência e sem ser completa.

Eternal Sunshine of the Spotless Mind
Lost in Translation
Before Sunset
American Splendor
Les Invasions Barbares
Kill Bill Vol.2 (mesmo que seja impossível separá-lo do Volume 1)
Los Lunes al Sol (sim, eu sei que não é deste ano, mas foi este ano que o vi, foi no cinema e merece estar aqui)
La Mala Educación (não é tão bom como os últimos do Almodóvar, mas não deixa de ser muito bom)
Der Untergang (Bruno Ganz tem a interpretação do ano, pelo menos até ao Javier Bardem de Mar Adentro)
Touching the Void
The Village (para compensar a presença do OVNI Los Lunes al Sol)

Repito que esta lista não está por nenhuma ordem especial. Ainda não está fechada, tenho algumas expectativas por Finding Neverland. Também repito que há filmes que ainda não vi, como alguns russos, chineses, japoneses, etc, que, apesar de terem passado pelo cinema daqui, não fui ver por me ser impossível compreendê-los. Os Diários de Motocicleta vão para o próximo ano. Os filmes portugueses talvez possam ser vistos agora nas férias.

E esta lista é, basicamente, uma seca, por isso fica por aqui.

sábado, dezembro 11, 2004

O melhor filme do ano (2)

João, não concordo com o Eternal Sunshine of the Spotless Mind para 1º, nem para os 5mais, mas nos 10mais entra de certeza. Aliás, ontem fiz a lista dos meus 5mais do ano de 2004 para A Cabra. São eles:

1º Noite Escura
2º American Splendor
3º Japón
4º A Paixão de Cristo
5º Colateral

Os nomes finais, admito, são discutíveis. Eu próprio tive muita dificuldade em justificá-los perante mim mesmo. É uma lista que representa, não tanto os 5 melhores, mas os 5 que, durante o ano, me pareceram mais marcantes, ou seja, os que me parecem mais susceptíveis de implicar a reflexão sobre si e, reflexivamente, sobre o cinema. Noite Escura aparece em primeiro lugar porque, sem sombra de dúvidas, é o melhor filme português desde "Uma Abelha na Chuva". American Splendor, porque é o zénite do biopic e, simultaneamente, da união Cinema/BD. Estes serão os dois títulos mais consensuais.
Depois, Japón. Japón não é um bom filme e levou coça dos críticos um pouco por todo o lado. Não é um filme nada fácil de ver, mas foi o mais estranho do (meu) ano, e merece aparecer aqui, quanto mais não seja por ser o maior ovni do ano.
A Paixão de Cristo, porque me parece memorável o modo como evidencia algo que uma história contém há dois mil anos sem que nunca se tivesse explorado esse aspecto no cinema, por um lado, e em qualquer modo de narração crística, por outro. Cristo já tinha sido deus, já tinha sido homem, mas nunca tinha sido corpo.
Por fim, Colateral. O filme de banda sonora irritante, muito mais meramente competente do que excelente cinema, entra na lista porque me parece um marco incontornável na medida em que é a primeira grande produção filmada num digital "pobre", ou seja, para embaratecer e simplificar, em vez de encarecer e complicar à la Star Wars. E, apesar de tudo, o filme tem o mérito artístico interessante de decorrer todo durante a noite, o que não pode ser encarado como algo meramente acidental - é uma declaração de avanço técnico, já que a grande dificuldade do vídeo digital foi sempre filmar em grandes contrastes de luz, como são os da iluminação nocturna. Por isso, quando o filme acaba com a madrugada a rebentar no céu, podemo-nos interrogar se o que estamos a ver não é uma alusão a uma nova era no mainstream cinematográfico.
Por fim, refiro os filmes que hesitei em colocar neste top5 e que seguiriam na minha lista se ela se estendesse para além desse número: 21 Grams, Les Triplettes de Belleville, Before Sunset e o acima mencionado Eternal Sunshine of the Spotless Mind.

sexta-feira, dezembro 10, 2004

6 notas sobre “Alexandre”

1- Não é possível continuar a crer razoavelmente na capacidade de Vangelis para fabricar bandas sonoras. O estilo dele devia ter ficado morto e enterrado, juntamente com Enya e quejandos, num grande caixão a meio dos anos 80. Que ficassem lá todos a cantarolar sem nos vir estragar os filmes para além do ano 2000.

2- Uma aposta: que Stone, que, afinal de contas, nunca filmou outra coisa que não o poder (mesmo em “Platoon” e “The Doors” ele está lá; a ver o que, para mim, é o melhor filme dele “Talk Radio”), ficou sem saber como deveria ser a estética para uma história passada na Antiguidade Clássica, largando assim a montagem frenética e a sobreposição temporal da sua obra entre “JFK” e “Nixon”. O resultado é envergonhado: quer superar, mas não sabe ou não consegue fazê-lo.

3- Acreditar em Angelina Jolie como mãe de Colin Farrel é tarefa difícil. E porquê aqueles sotaque ridículo? E porque passa o sotaque para Rosario Dawson? Se é por ser persa, porque é que aquilo soa a russo?

4- Nota pessoal, já que Alexandre Magno é a minha figura histórica predilecta: gostaria de ter visto mais da ascensão dele após a morte do pai.

5- O filme procura ser um épico pelo excesso. É uma mélange e, ao não conseguir encontrar o que há de essencial em si mesmo, falha.

6- Stone contorna bem a tentação do digital. “O Senhor dos Anéis”, apesar de tudo, ficou lá longe, no devido lugar.

quinta-feira, dezembro 09, 2004

Esclarecimento

Bom, estou a ver que a história da "guerra" com o ABCine foi muito mal compreendida.

Quando decidi que não terminaria a minha participação no Série B, foi com a consciência que teria de começar a escrever de outra forma. O mail que me foi enviado aqui há uns tempos pelo ABCine, a dizer que eu seria retirado do fórum, deu-me a ideia: polémica. Deixar-me de politiquices nas análises aos filmes e às situações. Começar a escrever de uma forma que me desse gozo e apelasse à polémica. Aparentemente resultou, mas não da forma que eu pretenderia.

Quem ler o texto sobre a declaração de guerra e tiver dois palminhos de testa percebe a ironia. Eu falo de um embaixador, declarações oficiais de guerra, portas fechadas por um fim de semana prolongado. Por favor, qualquer um vê que é gozo. Sem dúvida que provoco, mas essa é a ideia. Mas parece que há quem não o perceba, alguém que, aparentemente e como já disse antes, se leva demasiado a sério.

Para esclarecer: eu não sofro de dupla personalidade. Apenas posso usar formas diferentes de escrever e actualmente adoptei esta. Daqui a uns tempos posso optar pelo estilo intelectualóide outra vez, mas assumi que os textos seriam de conversa de café e assim ficarão. E para quem frequenta o cinema sem fumar um cigarro ou beber um café antes ou depois do filme (eu não fumo nem gosto de café, mas passo pelo café na mesma) para uma boa discussão, não sabe do que é que eu estou a falar.

Felizmente há quem perceba o que eu quero dizer - e não, não me faço de incompreendido nem nada do género, apenas não gosto de confusões. O Pedro, do sempre agradável Pipoca Rasca!, é dos que percebeu esta fase. E aparentemente até lhe agrada. Pessoalmente, se alguém me provocasse desta forma, eu deliraria de alegria. Quem não o percebe deveria sair um pouco mais de casa. Existe um mundo lá fora, vão explorá-lo.

Quanto ao resto, peço desculpa por não saberem da guerra. Incompetência certamente do meu embaixador, vai ser desde já recolocado no consulado de Birki-Birki no Burkina Faso a lamber envelopes para saber o que é bom para a tosse. E estejam descansados, eu não deito fogo a nada, só gosto de umas boas polémicas. E é só mesmo comigo, não creio que o João Vaz e o Jorge Vaz Nande estejam interessados no assunto. Só vos peço uma coisinha por amor de deus: Não me comparem ao Santana Lopes, é que aí é que a guerra pode tornar-se mesmo mázinha. Nesse caso arriscam-se a que eu vos compare ao Paulo Portas pela relação amor-ódio entre os dois.

Vamos lá então à guerra mas civilizadamente, sem más-educações e sem seriedades desnecessárias. Fico à espera de comentários indignados ou de posts incendiários. Caso contrário farto-me e deixo mesmo a blogosfera. Agora decidam aquilo que acharão mais interessante.

PS - quanto ao Miguel Lourenço Pereira, meu caro, aprende (deixei o você, é aborrecido e eu gosto é de informalidades) a ler como deve ser aquilo que te é dito. Espero que tenhas entendido o que eu quero dizer nos meus vários textos. Caso contrário ainda sou gajo para te fazer um desenhinho.

terça-feira, dezembro 07, 2004

Ainda a classificação

E as ignorâncias também. Que o cinema é uma questão de gosto é entendido e subentendido e ninguém aqui quer discutir isso. Quando me dá na real gana também gosto de sacar do filmeco mais atrasado mental que tenho em casa só para me entreter durante um pouco. Habitualmente resulta que só consigo ver parte do filme e que o filme vai sendo visto ao longo de algumas semanas, mas não vou falar mal do American Pie sem o ver, não é verdade?

(Por falar nisso, hoje dá o Cowboy Ugly an televisão. O filme parece ser mesmo muito mau, mas as gajas são boas que se fartam)

Bom, mas não foi para falar dos filmes maus que eu vejo ou não que decidi escrever. Foi mesmo para falar dos filmes banais que são promovidos a obras-primas. O melhor exemplo dessas listas vem no IMDb. Este site sem dúvida que é de uma utilidade enorme, mas o seu Top-250 roça o ridículo (mas pelo lado de lá, ou seja, do ridículo). Claro, é apenas um top feito a partir das médias dadas pelos utilizadores aos filmes que viram, pelo que não reflecte necessariamente a opinião de gente que percebe alguma coisa de cinema.

E isso fica patente em resultados como aquele que coloca o Padrinho no primeiro lugar, o terceiro volume do Senhor dos Anéis no segundo e - ó Céus - Os Condenados de Shawshank em terceiro. Bom, qualquer pessoa com um cérebro maior que uma cabeça de fósforo sabe que o segundo Padrinho é o melhor de todos e que o terceiro mais valia ter ficado no baú mais uns tempinhos, mas enfim, pelo menos o primeiro é um filme também muito bom. É certo que a adaptação do Senhor dos Anéis resultou bem, especialmente considerando que o livro era inadaptável, mas dar o segundo lugar ao terceiro filme? Virgem Santíssima! Que uma alforreca me coma vivo se o primeiro não é o melhor e mesmo assim não merecia aparecer nos 100 primeiros lugares.

Já Os Condenados de Shawshank é uma tara à parte. É parte de um hype, é o que é. É daqueles filmes que toda a gente gosta, a que dá práí um 10 em 5 (não é gralha, é mesmo dez de zero a cinco) e que, passados uns três meses, nem nos lembramos da istória excepto que se passa numa prisão e que há um tipo que se pisga. É mais uma razão para acabar com estes sistemas de classificações que deveriam ser causadores de fuzilamentos em massa de quem os pratica. Afinal de contas quem, no seu perfeito juízo, dá mais de um 6 em 10 a este filme? É bonitinho, mas também a minha mãezinha o é e eu não a convenço a concorrer a Miss Universo. Claro que isto não importa minimamente para os mentecaptos que votam no IMDb. E perto disso andam os mecos do ABCine (sim, isto é guerra aberta mesmo, pelo menos se eles tiverem recebido a declaração oficial enviada pelo embaixador este fim de semana - espero que não estivessem com as portas fechadas a gozar um fim de semana prolongado. Aqui trabalha-se porra!).

Qualquer pessoa que, depois destes anos, coloque o Shawshank Redemption nos primeiros 500 lugares da história do cinema merece ser enforcado com a corda a entrar directamente pelo cú e a ser apertada em torno da laringe. Por isso é que abomino o raio das classificações.Que possam ser subjectivas é uma coisa, agora que provoquem estes ridículos é outra. Aliás, vai-se a ver qualquer classificação dos melhores filmes do século e encontra-se esse filme, mas quem o inclua e não outros, como o Garganta Funda, o Viagem à Lua ou a colecção completa dos Looney Tunes não merece reentrar no espaço sagrado de uma sala de cinema.

Por agora chega, a porrada continua noutra altura.

segunda-feira, dezembro 06, 2004

Incríveis em quê?

Sejamos frontais: O novo film da Pixar, The Incredibles, é muito bonitinho, mostra mais uns truques da empresa e as potencialidades dos desenhos animados em computador, mas pouco mais. A história é banal e previsível, as personagens decalcadas de outros mundos e apenas a figura da estilista merece o preço do bilhete. Aliás, é mesmo a Edna Mode que salva o filme, porque de resto mais vale pegar na minha velha colecção de banda desenhada da Marvel.

Comecemos: família de suer-heróis? Não é decalcada do Quarteto Fantástico da Marvel nem nada. Tem uma personagem que se estica, uma que tem super-força, uma que fica invisível e projecta campos de força e um que é muito rápido. Aliás, este último é o único que escapa ao que já existia no Quarteto Fantástico (Fantastic Four no original, curiosamente um filme para ser estreado algures no futuro). Até a personagem do mau é decalcada das mesmas aventuras. O Dr. Destino (ou Dr. Doom) também era um amigo (no filme trata-se de um fã) do líder da equipe e que, na ausência de poderes, compensava com uma grande inteligência para criar inventos poderosos para combater os heróis. Passava portanto de fã a némesis, exactamente como o Dr. Doom perante o Sr. Fantástico - curiosamente, que coincidência, o herói principal do filme chama-se Sr. Incrível.

Quanto aos outros? Bom, temos um miúdo com supervelocidade, poder já explorado nos livros da Marvel. O mesmo se passa com o tal Frozone capaz de congelar o ar em volta e que parece estar ali para garantir a percentagem mínima de heróis negros. A histeria contra os heróis parece decalcada das aventuras do Homem-Aranha ou do ódio contra os mutantes mostrado nas histórias dos X-Men. Aliás, os estragos provocados pelos heróis até já tinham sido gozados pelos episódios de Lethal Weapon.

O filme é, portanto, uma colecção de clichés sobre os super-heróis e nada acrescenta a esse imaginário. É certo que é divertido em alguns momentos, mas noutros é aborrecido de morte. Até o paleio moralista da mãe sobre a filha vir a ser capaz de usar os seus poderes quando for mesmo necessário é banal. Já foi visto em montanhas de filmes americanos sobre adolescentes perturbados. A rábula sobre as capas é repetida de tal modo que no final já se sabe que a mesma vai ser a causa da perdição do Syndrome. O mesmo acontece com o bebé. Diz-se tantas vezes que não tem poderes que se torna óbvio que vai surgir um momento em que os mostrará de forma imparável.

Conclusão: querem divertir-se um pouco com um filme com uns momentos interessantes e uma (única) personagem fica para a história? Paguem lá o dinheiro do bilhete. Mas não me venham dizer que isto é uma obra-prima. Filmes como Finding Nemo, Toy Story ou A Bug's Life foram bastante mais interessante. Se é por este que a Pixar espera ganhar o futuro longe da Disney, o melhor é pensar novamente.

PS - as short stories animadas mostradas antes do filme, uma com carros e outra com uma ovelha dançarina e saltadora, superaram o filme em si mesmo. Bastou um pouco de "artesanato artistíco" e uma ideia engraçada para uma história.

sexta-feira, dezembro 03, 2004

A puta da Objectividade

Disclaimer: Este texto não é aconselhado a quem se levar muito a sério.

Muito bem Jorge e João, devagarinho e com paciência vamos lá. OK, seja. Pessoalmente, e porque, como disse antes, estou farto do estilo convencional e políticamente correcto dos meus textos até agora, vou adoptar outro ponto de vista: o paleio de café com elogios desmesurados e críticas violentas aos filmes que veja. E vou desfazer em pó a opinião de quem não concorde ou quem tenha uma opinião que eu ache ridícula.

O cinema é, para mim, e continuará a ser, uma fonte de prazer. Há quem fume, há quem se drogue e há quem se masturbe. Eu consumo doses desmesuradas de cinema. Um mesmo filme, mesmo mau, correrá o risco de ser visto umas 5 ou 6 vezes se me der na gana. Só para satisfazer a dose diária. Por isso mesmo não tenho muita paciência para sentimentos de intelectualidade sobre o cinema. Claro que posso fazer críticas estruturadas e bem fundamentadas, com uma linguagem cuidada e correcta. É o que tenho feito até agora. Só que isso farta e, pessoalmente, o que me fez fartar disso, foi um certo e-mail que recebi da famosa ABCine, pomposamente autodenominada "Academia de Blogues de Cinema".

Foda-se que não há pachorra. Academia? Mas desde quando? Dão aulas? Se dão convém avisar, que ainda não vi nada. Para além disso pouco vi que tivessem para ensinar. Da discussão nasce um aprofundar de conhecimentos, mas cada um destes blogues tem mantido um autismo profundo. Não sei se o meu post sobre os sistemas de classificações terá sido o único momento em que se discutiu entre os vários blogues, ams presumo que tenha sido caso raro. A única coisa que promovem é um clubinho restrito com um fórum onde discutem entretidos aquilo que lhes apetece.

Claro que nada tenho contra isto, o que me incomoda é mesmo a importância que dão a si mesmos. São todos estudantes de cinema ou são apenas cinéfilos militantes? Aparentemente acham que o cinema é demasiado importante para ser discutido em sistema de brincadeira e com umas caralhadas pelo meio.

Fizeram uma classificação dos 100 melhores filmes de sempre, mas nem um filminho dos Monty Python para amostra. Ora porra! Uma única piada proferida pela boca do John Cleese vale 10 filmes do Shyamalan. A sequência inicial d'A Vida de Brian já bastava para a história do cinema de comédia. A omissão do Declínio do Império Americano, do Dennys Arcand, quando As Invasões Bárbaras ali aparece, só demonstra que o dinheiro que gastaram com o bilhete para este último filme não vale sequer para papel higiénico quando não viram o anterior. Irei mais longe num outro ponto: esquecer um filme como O Efeito dos Raios Gama no Comportamento das Margaridas é ignorar a grandiosidade do título. Só o título mereceria os óscares do Titanic. Ver o filme é lucro sobre essa mais valia. Podia continuar com os exemplos e sim, eu sei que as listas são sempre subjectivas, mas merda para isto tudo! há mínimos a serem respeitados.

Concluindo esta diarreia mental. Os meus textos futuros vão ser ataques a tudo e todos. Quando achar que um filme é bom, nem que seja como laxante quando se está com prisão de ventre, cá ficará o elogio. Como me parece que a maioria do cinema actual, especialmente americano, não vale a ponta do corno, as críticas vão ser abaixo de cão. Se não gostarem, que se fodam. Ah sim!, claro que os links para blogues de cinema vão desaparecer da direita. Apenas ficam links para outros sites. Os de blogues serão feitos ocasionalmente.

Fico à espera dos comentários indignados: a caixa está aí abaixo.

PS - depois de o voltar a ver fiquei com outra impressão do The Terminal. Não vale mais que 12 em 20. Não gostam? Azar.