sábado, dezembro 11, 2004

O melhor filme do ano (2)

João, não concordo com o Eternal Sunshine of the Spotless Mind para 1º, nem para os 5mais, mas nos 10mais entra de certeza. Aliás, ontem fiz a lista dos meus 5mais do ano de 2004 para A Cabra. São eles:

1º Noite Escura
2º American Splendor
3º Japón
4º A Paixão de Cristo
5º Colateral

Os nomes finais, admito, são discutíveis. Eu próprio tive muita dificuldade em justificá-los perante mim mesmo. É uma lista que representa, não tanto os 5 melhores, mas os 5 que, durante o ano, me pareceram mais marcantes, ou seja, os que me parecem mais susceptíveis de implicar a reflexão sobre si e, reflexivamente, sobre o cinema. Noite Escura aparece em primeiro lugar porque, sem sombra de dúvidas, é o melhor filme português desde "Uma Abelha na Chuva". American Splendor, porque é o zénite do biopic e, simultaneamente, da união Cinema/BD. Estes serão os dois títulos mais consensuais.
Depois, Japón. Japón não é um bom filme e levou coça dos críticos um pouco por todo o lado. Não é um filme nada fácil de ver, mas foi o mais estranho do (meu) ano, e merece aparecer aqui, quanto mais não seja por ser o maior ovni do ano.
A Paixão de Cristo, porque me parece memorável o modo como evidencia algo que uma história contém há dois mil anos sem que nunca se tivesse explorado esse aspecto no cinema, por um lado, e em qualquer modo de narração crística, por outro. Cristo já tinha sido deus, já tinha sido homem, mas nunca tinha sido corpo.
Por fim, Colateral. O filme de banda sonora irritante, muito mais meramente competente do que excelente cinema, entra na lista porque me parece um marco incontornável na medida em que é a primeira grande produção filmada num digital "pobre", ou seja, para embaratecer e simplificar, em vez de encarecer e complicar à la Star Wars. E, apesar de tudo, o filme tem o mérito artístico interessante de decorrer todo durante a noite, o que não pode ser encarado como algo meramente acidental - é uma declaração de avanço técnico, já que a grande dificuldade do vídeo digital foi sempre filmar em grandes contrastes de luz, como são os da iluminação nocturna. Por isso, quando o filme acaba com a madrugada a rebentar no céu, podemo-nos interrogar se o que estamos a ver não é uma alusão a uma nova era no mainstream cinematográfico.
Por fim, refiro os filmes que hesitei em colocar neste top5 e que seguiriam na minha lista se ela se estendesse para além desse número: 21 Grams, Les Triplettes de Belleville, Before Sunset e o acima mencionado Eternal Sunshine of the Spotless Mind.