Filmes que marcam
Teria eu uns 10 anos quando deu um filme do Fritz Lang na televisão e que se chamava O Tigre de Eschnapur. O dito filme, passado numa altura em que a RTP era a única televisão em Portugal, foi exibido num sábado à noite, por volta das 11 horas. Tínhamos em casa a nossa televisão a cores nova, a primeira que comprámos - ainda por lá anda, a funcionar como se tivesse saído ontem da fábrica... bem, quase... - e permitiu-me ver aquele filme num deslumbrante Technicolor (Eastmancolor, segundo o sempre esclarecedor IMDb) que me deslumbrou.
Fritz Lang a cores? Foi em 1959, muito tempo depois do M ou do Metropolis, portanto. O filme fazia parte de um díptico (penso eu) que se seguia com O Túmulo Indiano, que acabou porser exibido pela RTP uma semana depois, exactamente no mesmo espaço (que saudades dos tempos em que se podiam ver bons filmes a horas aceitáveis e com uma determinada lógica na televisão estatal).
A história contava qualquer coisa sobre um arquitecto na Indía que descobria um túmulo e metia umas quantas referências culturais e místicas do país. Que teve então este filme de especial? Claro que se tratava de um Lang, como tal teria de ser especial, mas na altura o nome Fritz Lang nada me diria. Mas foi um filme que me deixou pegado à televisão durante toda a sua duração, imune (ou pelo menos indiferente) ao sono e à fome que me lembro que me assaltavam. Mais, foi o filme que eu vi, em deterimento do da RTP1 que seria certamente mais comercial e, como tal, mais apelativo ao imaginário de uma criança de 10 anos.
Aquele momento, verdadeiramente mágico para mim, deu-me a perceber o prazer e o fascínio que o cinema me davam. Mais tarde acabei por perceber que esse fascínio era tanto maior quanto maior era a obra. Dei por mim a rejeitar os westerns bacocos do Roy Rodgers e a ficar apaixonado pelos de John Ford. Comecei a apreciar mais o Truffaut ou o Goddard que os Laços de Ternura e Kramer contra Kramer que pululavam na altura no cinema americano.
As minhas escolhas pessoais em termos de cinema foram sendo - e são-no ainda - formadas ao longo do tempo, mas nunca me esqueci daquele momento em que vi um filme, alemão - língua que desconhecia por completo na altura - às tantas da noite (numa altura em que a hora de deitar estava ultrapassada há muito) e que me deixou deslumbrado pela força da arte.
Muitas outras situações semelhantes tive entretanto. Poderei contá-las, mas por hoje fecho aqui o albúm de recordações.
Teria eu uns 10 anos quando deu um filme do Fritz Lang na televisão e que se chamava O Tigre de Eschnapur. O dito filme, passado numa altura em que a RTP era a única televisão em Portugal, foi exibido num sábado à noite, por volta das 11 horas. Tínhamos em casa a nossa televisão a cores nova, a primeira que comprámos - ainda por lá anda, a funcionar como se tivesse saído ontem da fábrica... bem, quase... - e permitiu-me ver aquele filme num deslumbrante Technicolor (Eastmancolor, segundo o sempre esclarecedor IMDb) que me deslumbrou.
Fritz Lang a cores? Foi em 1959, muito tempo depois do M ou do Metropolis, portanto. O filme fazia parte de um díptico (penso eu) que se seguia com O Túmulo Indiano, que acabou porser exibido pela RTP uma semana depois, exactamente no mesmo espaço (que saudades dos tempos em que se podiam ver bons filmes a horas aceitáveis e com uma determinada lógica na televisão estatal).
A história contava qualquer coisa sobre um arquitecto na Indía que descobria um túmulo e metia umas quantas referências culturais e místicas do país. Que teve então este filme de especial? Claro que se tratava de um Lang, como tal teria de ser especial, mas na altura o nome Fritz Lang nada me diria. Mas foi um filme que me deixou pegado à televisão durante toda a sua duração, imune (ou pelo menos indiferente) ao sono e à fome que me lembro que me assaltavam. Mais, foi o filme que eu vi, em deterimento do da RTP1 que seria certamente mais comercial e, como tal, mais apelativo ao imaginário de uma criança de 10 anos.
Aquele momento, verdadeiramente mágico para mim, deu-me a perceber o prazer e o fascínio que o cinema me davam. Mais tarde acabei por perceber que esse fascínio era tanto maior quanto maior era a obra. Dei por mim a rejeitar os westerns bacocos do Roy Rodgers e a ficar apaixonado pelos de John Ford. Comecei a apreciar mais o Truffaut ou o Goddard que os Laços de Ternura e Kramer contra Kramer que pululavam na altura no cinema americano.
As minhas escolhas pessoais em termos de cinema foram sendo - e são-no ainda - formadas ao longo do tempo, mas nunca me esqueci daquele momento em que vi um filme, alemão - língua que desconhecia por completo na altura - às tantas da noite (numa altura em que a hora de deitar estava ultrapassada há muito) e que me deixou deslumbrado pela força da arte.
Muitas outras situações semelhantes tive entretanto. Poderei contá-las, mas por hoje fecho aqui o albúm de recordações.