quarta-feira, janeiro 12, 2005

No reino da imaginação

Sejamos sucintos: Finding Neverland é um filme giro. Bonito, com bons actores, com boas interpretações e alguns momentos que são realmente mágicos, mas não passa disso. A história, já toda a gente o deve saber, passa por J.M. Barrie, o autor de Peter Pan, conhecer uma família, especialmente as crianças dessa família e, no decorrer do verão, inspirado pelos momentos passados com essas mesmas crianças, ter escrito a sua peça mais famosa.

O filme tem momentos bem achados, como a "transformação" dos personagens do filme nas personagens das histórias saídas das brincadeiras. A transfiguração de Barrie e das crianças em indíos, cowboys, piratas, etc, é bem achada. O problema está no facto de cansar, mas aí entra alguma inteligência de Marc Forster ao não exagerar na ideia. Só que o filme poucas mais ideias tem. Há o conflito entre a mãe das crianças e a sua própria mãe. Há o afastamento progressivo de Barrie em relação à sua esposa. Há o comic relief, fracamente conseguido, com a personagem do dono do teatro, personagem desempenhada por Dustin Hoffman - que ou era americano ou então o actor não conseguiu simular o sotaque britânico. O filme carece de ideias para lá da original e Forster não consegue encontrar muitas soluções narrativas.

O que faz então? Cai sobre o desempenho dos actores. Depp está em estado de graça, portanto vamos a ver o que pode fazer - além disso o papel é mesmo à sua medida. Winslet é uma actriz adulta, já mãe na vida real, que pode transmitir a ideia de protecção da família que caracteriza a sua personagem. Julie Christie é segura: típica actriz britânica, sempre capaz de desempenhar qualquer papel em filmes "de época". E depois temos o seguro elenco de actores infantis, especialmente o da personagem de Peter, o pequeno Freddie Highmore. A dificuldade na condução de actores está na relação entre eles, algo artificial e com pouca química. Depp não liga com Winslet. Os pequenos não ligam com Winslet ou Christie. Depp não liga com alguns dos pequenos, especialmente o próprio Freddie Highmore. As suas interpretações individuais são perfeitas, mas não funcionam como um todo.

O que resulta no final então? Um filme bonito, com umas ideias engraçadas e alguns momentos mágicos. Mas nada que justifique hype. E se Depp for nomeado para alguma coisa por causa deste papel, então bem pode agradecê-lo ao Piratas das Caraíbas. Por muito criança que Depp possa ser com Barrie, nunca será tão selvagem como com o (Capitão) Jack Sparrow. É uma questão de personalidade. E a de Finding Neverland não chega.