sábado, janeiro 01, 2005

O pior do ano

Quanto a listas, na verdade não se pode dizer que eu tenha jeito para elas, at´poque nunca tomo nota dos filmes que vou vendo ao longo do ano. Mas uma coisa é certa, depois de finalmente ver o Alexandre de Oliver Stone, posso ter a certeza que foi certamente o pior filme do ano.

Certo que há filmes que são, objectivamente, piores. O que tem de se levar em consideração são as condições em que o filme é feito, os meios disponíveis e os objectivos a que se propõe. E neste aspecto Alexandre falha em quase tudo.

Os melhores momentos estão a cargo de três actores já veteranos. Anthony Hopkins (agora naturalizado americano, mas a verve britânica continua bem presente) ao longo das narrativas da memória de Ptolomeu está ao seu nível habitual: seguro e perfeito a transmitir o seu papel, mesmo que tenha pouca espessura dramática. Brian Blessed, numa quase-figuração, como instrutor de luta do jovem Alexandre. Ao nível daquilo que dele nos lembraríamos com as suas actuações em filmes mais "shakespearianos" como Henry V ou mesmo na primeira série de Blackadder. O terceiro momento de qualidade surge com Christopher Plummer e o seu Aristóteles. É um facto que se cometeu o crime de não o caracterizar de forma nenhuma especial e de faltar o momento em que Alexandre decide que já sabe tudo o que precisa e que o pode dispensar, mas a sua prelecção aos jovens macedónios carrega realmente o peso de uma aula e com a aura de sabedoria de um mestre.

A partir daí o filme é um desastre. A relação entre Alexandre e Hefaísto não tem chama. Colin Farrel parece um palhaço com a sua cabeleira loira (que nem sequer é certo que Alexandre realmente tivesse). Rosario Dawson surge apenas para mostrar os seios e falar com um sotaque que não se percebe de onde seré. Sotaque que Angelina Jolie também tem, embora este mais perceptível, sendo típico da zona dos balcãs. O que falha é que quem deveria ter tal sotaque seria Val Kilmer, que faz o papel de Macedónio. Mas tudo isso seria areia a mais para a pequenina camioneta de Stone.

A tal camioneta de Stone acaba por virar tragicamente na sequência da batalha da Indía. Num assomo new age, Stone decide que Alexandre comeu uns cogumelos que lhe deram umas alucinações que uma estrela rock não desdenharia. A imagem passa a ser cor de rosa, azul, fortemente saturada de cores e absolutamente insuportável para o espectador. Além disso, só a custo é possível suster o riso quando se vê o cavalo de Alexandre empinado em frente ao elefante que ataca. O ridículo atinge o seu momento alto neste ponto do filme. E só é pena que não mate.

Quanto ao resto, o filme é um desfilar de lugares comuns que poderiam ter ficado no baú dos desejos de Stone e que escusavam de ir gastar o dinheiro dos estúdios e que poderiam ter servido para realizar filmes mais interessantes. Um bocejo portanto, e um desperciçar de dinheiro do espectador. Fica o desejo que Oliver Stone se reforme depressa.

Últimas duas notas. A discussão em torno dos sotaques da maioria dos actores é estéril. Muitos actores são irlandeses e usam os seus sotaques naturais, não parecendo ter recebido quaisquer ordens acerca desse aspecto. Quanto à escolha de Farrel para o papel de Alexandre, parece ter sido um erro. Pessoalmente preferiria ver Jonathan Rhys-Meyers no papel, só que isso levaria a um Alexandre mais carnívoro e sombrio e, infelizmente, isso caíria mal na visão acidificada de Stone.